A violência é geralmente relacionada à movimentação, ao ato abrupto. Nossa agressividade explode em um momento de fúria, nossas pernas acompanham o frenesi, se desesperam, tropeçam nelas mesmas. São atos impensados, movidos pelo instinto animal de se proteger e de atacar, no entanto são atos.
Mas não eu. Eu sou um demônio estático. Congelado e inerte, assisto ao inferno com a tranquilidade e paciência de um monge tibetano. Meu único movimento é o da auto censura, que violenta minha alma sem mover um dedo.
Minha escrita é telegráfica, não há nada de poético ou de desesperado. Quanto mais escrevo, mais calado fica meu espírito. Ele descansa, depois de tantos esforços dramáticos. Após a explosão, não resta mais nada.
Apenas um suave vazio sacode de um lado para o outro, como o pêndulo de um velho relógio de madeira. O estado é contemplativo e abstrato, como se uma atmosfera azul estivesse tomando o lugar da morte.
De repente, percebo que não estou mais caindo, nem morrendo. Eu já cheguei ao chão, que me abraçou com lama e sangue. Já fui recebida pela terra ácida, apesar da minha surdez aleatória, que me deixou perdida naquele mundo.
Meus sentidos estão confusos, porém relaxados ao mesmo tempo. Mas corvo negro, o que tu olhas enquanto sobrevoa minha cabeça? Mesmo com a lógica embotada, deduzi o que era tudo aquilo: a sensação de perda.
É a queda do movimento.